sexta-feira, 11 de março de 2011

Lembranças

 Bom, essa será minha primeira postagem, por isso escolhi esse conto para começar. Este conto foi um dos primeiros que escrevi nesse estilo e que mudou o meu jeito de escrever contos. Espero que gostem!




LEMBRANÇAS.




            Não era a primeira vez que ela descia lá para pegar morcegos, eles sempre entravam em seu porão e incomodavam a pobre velha com seu bater de asas e seus gritos horripilantes. Ela desceu as escadas muito devagar, já fazia mais ou menos um ano que não entrava um morcego ali e por isso fazia um ano que a velha não descia para seu porão. Segurando a velha rede de limpar a piscina, ela ia capturar o animal repugnante e depois jogá-lo aos céus.
         Os seus passos abafados pela poeira faziam um barulho enorme lá em baixo, a madeira gasta exalava um cheiro terrível. A velha andava muito devagar, mas não o bastante para não tropeçar, a madeira no chão fazia pequenos degraus, a armadilha perfeita, a velha caiu... Caiu em cima de uma pilha de caixas, com um som estrondoso. “Que jeito estúpido de morrer”, ela pensou, sozinha no porão, mas ela não havia morrido. Levantou-se e olhou para o conteúdo das caixas no chão, das três que caíram apenas uma coisa saiu de dentro delas, uma boneca, uma boneca tão linda e delicada quanto as estrelas. A mão tremula da velha alcançou a boneca, a lembrança de uma pessoa roçou em sua mente, uma pessoa que ela já não via há muito tempo, a pessoa era sua filha e a boneca era dela.
         A velha subiu as escadas do porão, passou pelo corredor e chegou ao seu quarto, depositou a delicada boneca em cima de sua cama, seu rosto era de porcelana, assim como suas mãos e suas pernas, o vestido era de rendas vermelhas. Por que a vida tinha de lhe tirar tudo... Tudo... E agora devolver a lembrança, nada mais que a lembrança de dias felizes, quando aquela casa não era tão fria, quando a velha era mais feliz e possuía o que havia de mais precioso em sua vida.
         Olhando para o brinquedo, ela vê a cor vermelha se misturar ao rosto da boneca, parece que a queda não tinha sido tão fraca assim, a velha entende o que irá acontecer e se sente feliz sabendo que verá sua filha em breve.


                                                        Por: Gustavo Roncoli Reigado

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