O PÁSSARO.
Subitamente, fixava o olhar ao redor da varanda coberta pela branca e delicada neve. Todos os dias, assiduamente, pousava o mesmo dissimulado olhar sob a varanda.
Sem anunciar-se através de um ruído auditível, ele logo estava à minha frente. Fitando-me por um minuto que aparentava ser uma longa eternidade.
Sua penugem inteiramente vermelha, como o sangue que um dia poderia causar a agonizante dor de uma morte.
Sim, era um simples pássaro. Mas por que tanto me intrigava e chocava, e ao mesmo tempo idolatrava-o com um Deus? Talvez, aquele pássaro soubesse de meu remoto passado, fazendo-me constantes visitas para ensinar-me a viver e para que eu pudesse desvendar o significado de liberdade, já que minha vida havia sido um fundo poço de extrema infelicidade, que a todos os momentos aterrorizava e amedrontava meus pensamentos.
Recordo-me que estava no auge da juventude quando me casei. Meu noivo possuía traços de perfeição, sendo honesto, trabalhador e bondoso. Ou melhor, ele aparentava ser. Após poucos meses, ele já havia deixado explícito seu verdadeiro eu. A partir deste fato, minha história se resumiu em três palavras: tortura, dor e terror.
No entanto, num pacato dia ele passou dos limites. Resolveu matar-me a qualquer custo.
Chorei desesperadamente temendo que algo ruim ocorresse. Sabia que deveria agir.
Com o ódio literalmente me movendo, matei-o. Prazerosamente, matei-o. Apreciei cada momento daquele ato, pois daquela maneira me vingaria pelos anos nos quais passei aprisionada, como um pássaro reprimido em sua gaiola.
Hoje, não observarei mais o pássaro vermelho e majestoso na varanda, pois através de seus olhos vejo exatamente o retrato daquele que causou minha infelicidade. Sei que me vigiará, vendo-me definhar até a morte.
Por: Giovanna Stracia Jannuzzi.
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